A mitologia brasileira como você (quase) nunca viu. Provavelmente.

A saga

Eras atrás, os deuses travaram uma guerra para decidirem quem ficaria com o domínio sobre o planeta. Como não chegassem a um vitorioso, e para não correrem o risco de acabar destruindo a Terra, decidiram dividi-la de modo que cada um ficou com um território. Tempos depois, quando eles se cansaram de governar o planeta e resolveram abandoná-lo, deixaram para trás seus soldados a fim de protegerem seus territórios. Essas são as chamadas criaturas mitológicas, que habitam a imaginação de todos os povos.

Nhanderu, o deus regente das terras que mais tarde se chamariam América do Sul, também criou um exército. E criou mais: criou um general, que poderia comandar seus soldados caso a guerra retornasse. Assim nasceu Moacir, o primeiro Baquara.

Muito tempo depois, já na época atual, o território de Nhanderu está em perigo: uma força invasora formada por bruxas, sátiros, múmias e zumbis e liderada por um vampiro, o barão Drácula, ameaça tomar as terras brasileiras para si. Enfraquecidos pela recente falta de crença por parte da população em geral, os soldados de Nhanderu precisam recorrer ao atual Baquara se quiserem ter uma chance de vencer a guerra que se aproxima. O problema é que o atual Baquara é um adolescente que não tem o menor interesse em seguir os passos de seus ancestrais. Mas quando ele vê sua namorada e seu melhor amigo serem atacados por um servo de Drácula, Febê começa a perceber que não é tão fácil fugir de seu destino.

Desde a infância, Bruno Cruz se interessou pela leitura, inicialmente com as histórias em quadrinhos da Turma da Mônica e depois com os livros da Série Vaga-Lume. Com o tempo,voltou aos quadrinhos, desta vez ao lado dos super-heróis da Marvel. E foi inspirado nesses personagens que ele teve a ideia para o que viria a ser conhecido mais tarde como a saga Baquara.

Já havia algum tempo que Bruno percebera – antes que qualquer um lhe dissesse o óbvio – uma alarmante mania do público brasileiro de desprezar os produtos nacionais em favor daqueles trazidos de outros países. Isso não se limitava a marcas comerciais, mas alcançava até os próprios personagens da cultura nacional. Mesmo os autores nacionais mais aclamados, como André Vianco, davam mais ênfase às mitologias estrangeiras do que à brasileira. Havia até mesmo uma certa diferenciação depreciativa entre as palavras “mitologia” (usada para se referir às grandes histórias gregas, nórdicas e japonesas principalmente) e “folclore” (utilizada quase exclusivamente para a cultura brasileira).

Era algo compreensível. Afinal, os personagens folclóricos geralmente nos são apresentados de uma maneira infantil e puramente didática, distante daquilo que eles eram para nossos pais, avós e bisavós. Para eles, apenas ouvir a palavra “saci” já era um mau agouro. Hoje, o pequeno demônio que chegava a matar as pessoas de susto por puro sadismo tornou-se nada mais que um moleque arteiro, totalmente inofensivo. Não é de se admirar que o público juvenil despreze essas histórias. Por isso, Bruno decidiu que algo precisava ser feito.

Em 2011, a primeira semente do que se tornaria um projeto razoavelmente ambicioso foi plantada: ele escreveu seu primeiro conto com uma mula-sem-cabeça. Outros se seguiram, conforme ele pesquisava sobre o assunto e entrava em contato com outros autores que também tinham objetivos semelhantes. A ideia era mostrar os personagens folclóricos como eles eram vistos pelos antigos, e não como são mostrados hoje às crianças.

Em 2012, inspirado no sucesso do Universo Cinematográfico Marvel (especificamente o lançamento do filme Os Vingadores), Bruno decidiu seguir os passos da empresa que admirava. Primeiramente, publicaria os contos que já tinha escrito, um para cada personagem. Depois, reuniria todos eles – e mais alguns – numa única história épica. Mas o que seria grandioso o bastante para reunir tantas criaturas mitológicas?

Foi aí que veio a iluminação. Já que a intenção era criticar a cultura do “o-que-vem-de-fora-é-sempre-melhor”, nada mais apropriado do que mostrar os personagens nacionais lutando cara a cara com vampiros, zumbis, múmias, dragões e outros seres “importados”. E para unir todos eles sob um mesmo objetivo, teve a ideia de criar um personagem novo: o protagonista da saga seria um adolescente, descendente de uma antiga linhagem de seres humanos que possuem o poder de enxergar as criaturas invisíveis e controlar os seres incontroláveis. Um herói nos mesmos moldes de Harry Potter e Percy Jackson, mas com características próprias que o distinguiriam de tudo o que já tinha sido feito antes.

Foi assim que surgiu a saga Baquara.

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